Notícia do dia 12 de maio de 2103
Sônia e Naiana se falam diariamente pela internet (Foto: Ingrid Bico/G1)
A vida paulistana virou rotina para a paraense Naiana Gaby, que saiu de
Belém
para fazer pós-graduação em São Paulo. Este domingo é o primeiro dia
das mães que ela vai passar longe da mãe, Sônia Gaby, que mora na
capital paraense. “Vou sentir uma saudade danada. Morar longe já é
complicado por conta da distância; São Paulo é perto, mas não dá para ir
sempre. Provavelmente eu vou me sentir mais longe do que normalmente me
sinto. E eu tenho também outras mães, né? Minha avó, minha irmã mais
velha... Então pode triplicar aí toda essa saudade”, afirma.
Para Sônia, que vai passar o domingo junto com a mãe e a filha mais
velha, Andresa, o dia será feliz, mas incompleto. “Nenhum filho
substitui o outro. Pode ter quantos filhos tiver, e não será a mesma
coisa quando um estiver longe. Mas não sinto tristeza, e sim uma
saudade, como se estivesse faltando alguma coisa. Vai ser muito estranho
não estar com a Naiana. Mas tem um lado feliz, de saber que ela está
seguindo o caminho dela, dos sonhos dela. E eu a empurro para frente
mesmo, para que ela siga os seus sonhos. Sempre que a gente conversa, eu
digo ‘vai filha, acredita’”, incentiva.
A relação estreita entre mãe e filha fez com que as duas se tornassem
tão parecidas a ponto de se reconhecer uma na outra. “Somos muito
parecidas em tudo, nas roupas que gostamos, no jeito de pensar, na
simplicidade... Ela está presente na minha vida, mas sinto falta da
presença física mesmo, de poder abraçar. A Naiana é uma pessoa que me
impulsiona, que me faz mudar. Ela traz minha juventude”, diz Sônia.
"Nenhum filho substitui o outro. Pode ter quantos filhos tiver, e não será a mesma coisa quando um estiver longe"
Sônia Gaby
A amizade entre elas, cultivada desde a infância, também acabou sendo
afetada pela distância: está mais forte. “Concordamos e discordamos em
muitos pontos, mas ela é minha amiga. Não consigo esconder nada para ela
e, se eu tentasse, ela ia descobrir. Sinto falta disso, do
companheirismo que eu e ela sempre tivemos, seja pra ir ao supermercado
ou superar um momento difícil”, diz Naiana.
Talvez essa proximidade seja a explicação para Sônia ter se tornado
conhecida entre os amigos da filha em São Paulo. “O que me dá muita
agonia é não saber a rotina dela. Quando acorda, para onde vai, o que
almoçou, o que fez no trabalho, que horas chegou em casa. Então eu ligo
umas 10 vezes por dia! Virei até uma lenda no trabalho dela, todo mundo
já sabe a hora que eu ligo”, diverte-se.
Neste domingo, mãe e filha estarão conectadas pela internet para que
Naiana possa participar do almoço especial de dia das mães. “Os homens
que vão servir as mulheres da família: vão usar avental, colocar os
pratos para gente, trazer a sobremesa, fazer tudo! Vai ser bastante
divertido”, explica Sônia. “É uma forma de participar da rotina da
família, mesmo não morando em Belém”, completa Naiana.
Vencendo a distância
A funcionária pública Maria de Nazaré Fares tem três filhos, mas vai
passar o dia das mães longe de todos eles. "Devido ao meu trabalho, em
Marabá, passo 15 dias trabalhando direto, e outros 15 dias de folga.
Esse ano, o período de trabalho coincidiu com o dia das mães, então vou
passar o domingo sem os três! A Camila está em São Paulo, o Akel em
Porto Alegre e o João Victor com o pai, em Belém. É difícil mesmo”,
conta.
Camila
e a mãe, Maria de Nazaré, mantém uma relação próxima, mesmo que morem
em cidades diferentes (Foto: Camila Fares/Arquivo Pessoal)
Para Camila, a única menina da família, a saudade da mãe é sempre
presente, especialmente aos domingos. “Domingo é o dia oficial de sentir
saudades, porque era o dia que a gente ficava em casa vendo filme,
conversando. Sinto falta da comida dela, apesar de ela tentar me ensinar
os temperos por telefone... E sinto falta do colo, né? Quem não chega
cansada em casa e quer a mãe?”, comenta a estudante, que mora na capital
paulista há quase dois anos, onde cursa pós-graduação em endodontia na
Universidade de São Paulo (USP).
Apesar da distância não ser tão grande, Maria de Nazaré e Camila não
conseguem cruzar a ponte aérea entre Belém e São Paulo com a frequência
que gostariam. “Eu tento ir para Belém sempre que dá, mas é difícil. O
mês de maio é bem complicado, porque não tem feriados longos, é período
de aulas e tem o meu emprego também”, explica Camila.
“A gente tem que dar esse primeiro passo e deixar os filhos viajarem
para conhecer outra realidade, para terem a noção de mundo e cortar o
cordão umbilical, mas é difícil. Então eu ligo todos os dias mesmo”,
conta Maria.
A gente tem que dar esse primeiro passo e deixar os filhos viajarem
para conhecer outra realidade, para terem noção do mundo e cortar o
cordão umbilical, mas é difícil. Então eu ligo todos os dias mesmo"
Maria de Nazaré Fares
Quando a família toda está reunida em Belém no dia das mães, Maria de
Nazaré conta que o almoço de domingo é tradição. Mas com um diferencial:
é ela quem prepara tudo. “Domingo de dia das mães com eles aqui é
sempre uma festa. E eu faço questão de fazer todas as comidas, porque
modéstia a parte, eu cozinho muito bem! Eu não sou de cozinhar todo dia,
mas quando vou para a cozinha... Todo mundo adora!”, comemora.
Mas para Maria, o melhor é o que vem depois disso. “A gente almoça e
fica todo mundo em casa, naquela preguiça boa. Daí quando vou para o meu
quarto, já tão todos na minha cama, para vermos um filme, e isso é a
saudade que eu tenho”, conta.
Neste ano, para remediar a distância, mãe e filhos terão que contar com
a tecnologia para transmitir a vontade de estar perto um do outro. “Em
2012 eu participei do almoço por telefone, e esse ano deve ser a mesma
coisa”, diz Camila.
“No domingo vou grudar no telefone, ligando para a minha mãe, para as
minhas amigas, e esperando a ligação dos meus filhos, claro. A Camila
deve me ligar de manhã e o Akel a noite. Agora, o João Victor vai ligar o
dia todo. Ele e meu marido ligam de hora em hora, nem que seja para
dizer ‘oi mãe, te amo’. Quando a gente está presente não importa a
distância física. Acredito que essa é a nossa função de mãe, de dar
liberdade para os filhos mas sempre com confiança, mostrando para eles
que estaremos aqui caso precisem. Porque mãe é porto seguro, não tem
jeito”, conta Maria, emocionada.
Contagem regressiva
Se para Maria de Nazaré e Sônia a saudade das filhas é uma constante,
para as mães Raquel Marinho e Olga Bentes Celso o sentimento já se
tornou uma contagem regressiva. Raphael Marinho, filho de Raquel, e
Thiago Celso, filho de Olga, estão na Europa concluindo mais uma etapa
de suas formações acadêmicas, e não virão ao Brasil para o dia das mães.
Em 2012, Raquel passou uma temporada em Portugal com o filho, Raphael (Foto: Raphael Marinho/Arquivo Pessoal)
Morando em Braga, Portugal, Raphael só deve voltar para o Brasil em
outubro deste ano. A última visita que recebeu da mãe foi em 2012,
quando passaram uma temporada juntos, inclusive o dia das mães. “Somos
muito próximos, nos falamos todos os dias. Ano passado
estivemos juntos no dia das mães português, que é no 1º domingo de
maio, no dia das mães brasileiro e também no aniversário dela, que é dia
14 de maio. Mas esse ano vai ter que ser via internet”, explica o
estudante.
“Os dias que ela passou aqui seguramente foram os dias mais legais e
intensos que eu tive. Mostrar a cidade onde moro, fazer compras,
cozinhar para ela e viajar, foi muito bom mesmo”, lembra Marinho.
“Sei que o Raphael está correndo atrás dos sonhos dele, mas coração de
mãe custa a entender isso. Especialmente porque ano passado eu estava
com ele, então a saudade aumenta, e agora fico contando os dias para ele
voltar”, conta Raquel.
Pelo menos posso contar com os meios de comunicação para facilitar
nosso contato, e aos domingos posso colocar o computador na mesa na hora
do almoço, ligar a webcam e conversar com ele"
Raquel Marinho
Para ela, a facilidade de falar com filho pela internet e telefone
ajuda a diminuir a saudade, mas não é suficiente. “Pelo menos posso
contar com os meios de comunicação para facilitar o nosso contato, e aos
domingos posso colocar o computador na mesa na hora do almoço, ligar a
webcam e conversar com ele, e assim ele compartilhar o almoço de domingo
com a família. Isso ameniza o nosso sofrimento, mas não substitui a
presença”, explica.
Nesta mesma expectativa está Olga Bentes Celso, mãe de Thiago, que mora
em Bologna, na Itália, e volta para o Brasil no próximo mês de julho.
“Esse vai ser o 2º dia das mães sem o Thiago aqui em casa. Em 2012 ele
tinha uma prova na época, lá em Marabá, e não pode vir a Belém”, explica
ela. Isso porque quando retornar a Belém, Thiago deve ficar um mês com a
família e viajar para Marabá, sudeste do Pará, onde ele cursa
engenharia de minas e meio ambiente.
“Cada minuto da volta dele já está planejado, para que a gente possa
aproveitar o máximo de tempo possível”, conta Olga. “Minha relação com
minha família é muito, muito estreita. Nossas decisões e planos para o
futuro são debatidos entre nós. Esse é mais um motivo que torna essa
distância realmente relevante. Seguramente, se não fossemos tão ligados
estar aqui não seria o mesmo desafio que é”, afirma o estudante.
Thiago, ao lado da mãe, Olga, vai ter que passar o dia das mães longe da família (Foto: Olga Bentes Celso/Arquivo Pessoal)
Thiago diz que o domingo de dia das mães vai ser bem complicado para
ele. “Minha mãe é minha vida, é tudo para mim, assim como cada membro da
minha família, e não estar com ela nesse dia é complicado. É uma
experiência horrível, acordar no domingo longe de
casa, sem poder acordá-la junto aos meus irmãos, pai e a Larinha, nossa poodle-toy”, lamenta.
Quando estão reunidos, Thiago conta que ele e os irmãos, Thainá
eThomás, esperam a mãe dormir no sábado a noite para começar os
preparativos para o domingo. “Preparamos cartazes, posicionamos o
presente, preparamos cartinhas e vamos dormir. No domingo vamos cedo
para a cozinha, preparar o pão de queijo e as frutas para a mesa do café
especial. Depois de tudo pronto, vamos acordá-la”, conta.
Olga diz que, dos 3 filhos, Thiago é o que costuma comandar estas
surpresas. “Essas coisas são típicas dele, de fazer surpresa. Quando
saem de madrugada para comprar as coisas do café da manhã, fazem tudo
para que eu não saiba da surpresa, mas a gente sempre desconfia né”,
diverte-se.
Como neste dia das mães Olga desconfia que não haverá tantas surpresas
como de costume, a programação principal já foi fechada. “Vamos almoçar
com a mãe do meu marido, a família toda vai para lá. Depois vamos alguma
coisa entre a nossa família mesmo, em casa, e assim terminar o dia
vendo um filme ou fazendo um lanche juntos”, conta